Produto 1- relatório técnico contendo mapeamento e análise de metodologias de monitoramento de políticas de inovação dos países que servirão como subsídios (espelhamento) para a formulação da PNI


Contrato nº 065/2019






Brasília-DF

Setembro de 2019

Consultor: Lucas Varjão Motta


































1. Introdução

É crescente o consenso acerca da necessidade de se avaliar políticas públicas e demonstrar o impacto delas, seja de forma ex-ante ou ex-post, permitindo que se foque naquelas mais eficientes. No governo federal, a conscientização sobre essa necessidade culminou na elaboração de documentos que servem de guia para execução de uma avaliação, buscando a disseminação da prática e suas ferramentas.

Tais avaliações também tem se mostrado essenciais no contexto da temática de inovação, de forma que TCU (2019) relata falhas no monitoramento e avaliação das políticas federais além do persistente baixo posicionamento do Brasil nos rankings de inovação.

O GII, desde sua primeira edição em 2013, tem ganhado destaque internacionalmente como a principal ferramenta de comparação dos fatores e resultados de inovação entre países. Assim, nesse estudo analisou-se o método de cálculo e a importância atribuída aos indicadores abarcados pelo GII. Adicionalmente, a fim de avaliar o resultado de 33.8 pontos obtido pelo Brasil no GII 2019 (colocação nº 66 no rank, de um total de 129 nações), elaborou-se uma comparação com outras nações com destacado ambiente inovador.

Diante de tal conjuntura, o presente relatório técnico contempla o mapeamento e análise de metodologias de monitoramento de políticas de inovação de países que servirão como subsídios para a formulação da Política Nacional de Inovação (PNI). Adicionalmente, seleciona-se países e executa-se avaliação do desempenho do Brasil, no que se refere a inovação, medido pelo o Global Inovation Index (GII).

Falar que o Benchmark não apresenta as boas práticas visto que não seria possível avaliar as boas práticas em tantas diferentes áreas de atuação e visto que os indicadores podem ser afetados por políticas bem distintas. Seria necessário traçar um mapeamento de todas as políticas e indicadores impactados. Ainda que isso seja realizado, não há como garantir que o resultado do indicador seja decorrente de uma política específica sem que haja um estudo de impacto de política a política.

2. O monitoramento de políticas de inovação com o Global Innovation Index (GII).

O Global Inovation Index (GII) é uma iniciativa organizada pela Universidade de Cornell, INSEAD e World Intellectual Property Organization (WIPO), e tem como objetivo avaliar continuamente fatores e resultados de inovação ao redor do mundo. Mais especificamente, trata-se de um ranking global de resultados de inovação que, no ano de 2019, incluiu 129 países e considerou 80 indicadores. Vale destacar que TCU (2019) apontou para o GII como principal referência sobre o tema de inovação na esfera internacional.

Na edição 2019 do GII, o Brasil atingiu a marca de 33,8 pontos obtendo a 66º colocação no ranking que considerou um total de 129 nações. Tal resultado foi inferior ao de 2018, quando ocupou-se a posição de número 64 com 33,4 pontos. O resultados nesses dois anos evidencía o fato de que a mera elevação dos escores obtidos não permite concluir numa melhora no ranking, restando avaliar a evolução dos demais países.

A figura 1 apresenta a evolução anual das 129 nações participantes do GII 2019 entre 2013 e 2019, caracterizada pela relação Scores vs. Ranking. Como pode ser visto, há um movimento de redução dos escores obtidos para as piores posições do ranking, de forma que o 100º colocado em 2013 somou cerca de 30 pontos, enquanto no ano de 2019 pontuou apenas 26,4. É necessário destacar que tal movimento, no entanto, pode ser fruto de uma piora dos indicadores dos países, de uma alteração da metodologia de cálculo do GII ou ambos.

Ainda que a comparação anual seja comprometida por alterações metodológicas, pode-se utilizar o GII para comparações entre países no mesmo ano, por exemplo, dada a pontuação do GII 2019 obtida pelo Brasil, verifica-se que com apenas um ponto adicional seria possível passar a Sérvia, ganhando 9 posições no ranking. Além disso, com 6,2 pontos adicionais, teríamos atingindo a marca de 40 pontos e superaríamos outras 25 nações no ranking, chegando a colocação nº 41.

Finalmente, a utilização do GII para o monitoramento do ambiente de inovação no País e para a busca por melhores posições no ranking exigem uma exploração dos indicadores considerados e do método de cálculo do GII.

Figura 1 - Evolução anual de participante do GII (2013 a 2019)

2.1 Indicadores e Cálculo do GII.

O score do GII é composto outros 2 scores (input e output), 7 pilares, 21 subpilares e 80 indicadores, como apresentado na Figura 2. Nesta seção, apresenta-se a forma de cálculo do score global e demonstra-se que os indicadores tem pesos variados. A informação dos pesos é de suma importância para o gestor de políticas públicas, visto que permite avaliar os impactos das ações sobre o índice de forma correta. De outra forma, não considerar as distinções dos pesos pode levar a conclusões erradas quanto ao efeito de um indicador sobre o score e a colocação do País no ranking.

Figura 2 - Componentes do GII

A divisão de scores entre input e de output visa incorporar indicadores relacionados aos insumos necessários para o desenvolvimento da inovação, assim como aqueles relacionados aos resultados/produtos dela.

O score do GII é calculado através de uma média aritimética dos scores do input e do output, de forma que, como pode ser visto na Figura 3, cada um deles tem um peso de 50% sobre o resultado do score global.

Por sua vez, obtém-se o score do input através de uma média simples dos 5 pilares que o compoem. Analogamente, o score do output é o resultado da média simples de seus dois pilares. Dessa forma, enquanto cada pilar do input corresponde a cerca de 10% do score do GII, os pilares do output representam 25% cada um.

Figura 3 - Pesos de Componentes do GII
Pesos de Componentes do GII

Pesos de Componentes do GII

Aprofundando a análise, descreve-se o procedimento de cálculo dos pilares. Cada pilar do input é composto por três subpilares, os quais apresentam todos o mesmo peso na composição de seus respectivos pilares. No que se refere aos pilares do output, percebe-se que há uma divergência na distribuição da composição, visto que para alguns subpilares foi atribuído o peso de 0,5, enquanto foi atribuído o peso 1 para os demais. Dessa forma, apesar de cada um dos pilares possuir três subpilares, os subpilares “creative goods and services” e “Online Creativity”, do pilar “creative output” representam conjuntamente apenas metade do peso total de seu pilar, enquanto o subpilar “intangible assets” responde pela outra metade.

As figuras abaixo apresentam a distribuição da composição de cada indicador e, assim, a dos subpilares. Como pode ser observado, não há uma homogeneidade na participação de cada indicador, algo decorrente da quantidade e dos pesos dos indicadores que compõe cada subpilar. Os pesos, para fins de cálculo de média ponderada podem ser 0,5 ou 1.

Figura 4 - Peso dos Subpilares que compõem o GII.

Finalmente, a multiplicação de cada uma dessas participações dos indicadores permite uma análise da composição do score do GII como função direta dos indicadores. A figura abaixo indica a participação de cada indicador e explicita a grande heterogeneidade existente. Com apoio das linhas pontilhadas, percebe-se que apenas 21 indicadores encontram-se entre as linhas que demarcam “Maior Peso” e “50% do Maior”. Adicionalmente, constata-se os indicadores de maior peso chegam a representar cerca de 8,64 vezes o valor do indicador de menor peso. Dessa forma, fica clara a necessidade de se obter resultados expressivos nos indicadores de maior peso para estar presente no topo do rank do GII.

Ainda com base na figura, percebe-se o grande destaque dos indicadores de output entre os de maior peso, de forma que dentre os 11 com maior pontuação, 10 pertencem a output. De forma antagônica, os do pillar business sophistication estão entre os de menor peso, com 10 indicadores entre os 13 de menor pontuação.

Figura 5 - Peso dos Indicadores do GII.

É importante observar que o cálculo do peso pode sofrer alterações sempre que algum indicador do País tem uma informação não disponibilizada. Nesses casos, o indicador/subpilar não é considerado e há uma redistribuição dos pesos de tal indicador/subpilar para os demais do mesmo subpilar/pilar.

Assim, investigando o grau de relevância da não disponibilização de um dado, percebeu-se que há um potencial siginificativo de alteração dos pesos. Em especial, esse potencial é de maior relevância quando não há disponibilidade de um indicador com muito peso, visto que tal peso será redistribuído para seus “vizinhos”.

2.2 O Brasil no GII.

Informados sobre a forma de cálculo do GII, passamos a uma análise do resultado do Brasil no ranking. A figura abaixo apresenta a pontuação do Brasil em cada indicador, sem que haja reajuste referente ao peso relativo. Como pode ser observado, os indicadores com maior pontuação são os de Online e-participation, Government’s online service, Cost of redundancy dismissal, Ease of starting a business e Domestic market scale. Destacadamente, o indicador Online e-participation é o de maior pontuação, atingindo o valor de 97.2.

Figura 6 - Scores do Brasil no GII 2019 (Sem ponderação)

A figura abaixo apresenta os scores do Brasil ponderados pelo peso, de forma que o valor de cada barra representa o montante adicionado pelo indicador ao score geral. Como esperado, verifica-se que os indicadores relacionados tem uma contribuição bastante elevada, ainda que o resultado do score, apresentado na figura anterior, não se mostrasse entre os de maior valor.

Nesse momento cabe enfatizar as distorções quando não se analisa os dados ponderados. O indicador brasileiro com melhor resultado, Online e-participation (score igual a 97.2), soma uma contribuição de apenas 0.8099676 à pontuação global. Por outro lado, o indicador Ease of resolving insolvency (score igual a 48.5), soma uma contribuição equivalente no valor de 0.8083495. Ou seja, o indicador com maior pontuação contribuiu similarmente a um indicador que contou com menos da metade de sua pontuação. Pode-se adicionar a essa análise o indicador Citable documents H index (score igual a 36.3), teve contribuição igual a 0.864303.

Figura 7 - Scores ponderados do Brasil no GII 2019

Finalmente, a tabela 1 abaixo apresenta os 80 indicadores considerados pelo GII, assim como o peso atribuído a cada um deles e suas participações no score do Brasil no ano de 2019. A tabela permite ainda uma comparação direta entre os indicadores de maior participação no score do Brasil e com o ranking do indicador segundo o peso. Observando os 11 indicadores melhores colocados no “Ranking de Peso”, percebe-se que vários deles tem baixa participação no score total, como o Creative goods exports que tem o 9º maior peso, porém, apenas a 68º maior participação.

É válido ressaltar que dos 80 indicadores, 57 são dados concretos, 18 são indicadores compostos e 5 são relativos a questionários aplicados pelo Forum Econômico Mundial.

Tabela 1 - Participação dos Indicadores no Score Final do Brasil

3. Benchmark

A fim de avaliarmos as forças e fraquezas do Brasil, compara-se os resultados dos indicadores com os obtidos por outros países. Como exercício inicial, selecionou-se a Suíça e a Islândia, nações que ocuparam a 1º e a 20º colocação no ranking do GII de 2019, respectivamente. Adicionalmente, compara-se o desempenho brasileiro com o do país médio, considerando todos os países mais bem colocados. A comparação contra o País médio possibilita uma avaliação consistente das forças e fraquezas, evitando que resultados isolados contra algum país específico seja super-representado.

3.1 Suíça

Como métrica de comparação entre os países, utilizou-se a diferença de escore, assim como explicitado pela equação abaixo \[Dif_i=Score_{i,br}-Score_{i,p}\], onde \(Dif\) é a diferença de escore, \(Score_{i,br}\) é o escore do Brasil no indicador \(i\), e \(Score_{i,p}\) é o escore do País \(p\) no indicador \(i\). Dessa forma, \(Dif\) apresenta um valor positivo para indicadores nos quais o Brasil apresentou melhor resultado, e um valor negativo em caso contrário.

A figura abaixo apresenta os resultados da comparação do Brasil com a Suíça. Como esperado, a comparação contra o país mais bem colocado aponta para o fraco resultado em diversos indicadores brasileiros. O principal destaque é a diferença de cerca de 2,43 pontos em favor da Suíça no indicador Foreign direct investment, net outflows. O indicador é calculado pela média de três anos do investimento direto como percentual do Pib. Vale salientar que a Suíça obteve em tal indicador o maior score possível, enquanto o resultado do Brasil foi apenas o 63º maior.

O segundo indicador com maior diferença é o Intellectual property receipts, com valor de 1.54 novamente a favor da Suíça. O indicador busca incluir o resultado de receitas relativas a propriedade intelectual dentro do País, medido como percentual do total de comércio (média de três anos). O indicador tem como fonte dados da Organização Mundial do Comércio e do Fundo Monetário Mundial, com última atualização em 2017. Nesse indicador a Suíça também apresentou o maior score possível, enquanto o Brasil obteve a posição de nº 31.

O terceiro indicador com destacado resultado da Suíça é o Wikipedia yearly edits, para o qual a Suíça também recebeu nota máxima. O indicador é calculado pela soma do número de sites “.br” ativos dividido pelo total de população com idade entre 15 e 69 anos. Em tal indicador o Brasil possui a posição 44 no rank, porém o indicador apenas contribui com 0.33% da pontuação total do Brasil.

Apesar das grandes disparidades observadas a favor da Suíça, é válido registrar os indicadores que o Brasil supera o país europeu, ainda que em pequena magnitude. Os dois principais indicadores que se encaixam em tal descrição são Domestic market scale e Ease of protecting minority investors. Enquanto o primeiro indicador é dado pelo Pib (US$) em paridade de poder de compra, de forma que é esperado que o Brasil supere a Suíça, o segundo é dado pela média entre dois outros indicadores, diga-se: extent of conflict of interest regulation index e extent of shareholder governance index, oriundos do relatório Doing Business 2019 do Banco Mundial.

Destaca-se ainda para a presença de cerca de outros 17 indicadores para os quais os dois países apresentam resultados semelhantes, com diferenças abaixo de 0.2 no score ponderado. Finalmente, é importante ressaltar a falta de alguns indicadores na análise devido a falta dos dados. Enquanto o Brasil não possui score em dois indicadores, a Suíça não conta com outros três.

Figura 8 - Comparação de Scores Ponderados entre Brasil e Suíça

3.2 Islândia (Nº 20 do rank)

A comparação com o País na 20º posição do rank, apresentada na figura 9, permite identificar oito indicadores para os quais o Brasil apresenta um resultado comparativamente melhor, os quais contribuem a favor do Brasil em 3,45 pontos para reduzir nossa diferença em relação a Islândia. No entanto, como esperado, identifica-se um número bem mais elevado de indicadores com resultados a favor da Islândia.

Destacadamente, a Islândia apresenta um resultado expressivo em três indicador relacionados a produção na internet, diga-se “Generic top-level domains (gTLDs)”, “Country-code top-level domais” e “Wikipedia yearly edits”. O primeiro desses indicadores refere-se ao total de sites do tipo “.com”, “.info”, “.net”, etc, mantidos por residentes do país. Os dados são coletados por meio da Internet Assigned Numbers Authority (IANA) e são divididos pela população entre 15 e 69 anos de idade do País. O indicador “Country-code top-level domais”, por sua vez, refere-se a sites do tipo “.br” mantidos pelo governo brasileiro e também é equacionado pelo tamanho populacional brasileiro.

O terceiro indicador é o “Wikipedia yearly edits” e refere-se ao número de edições executadas em páginas da Wikipedia. O manual do GII não deixa claro se também é considerado o número de novos artigos criados ou ainda sobre a relação entre o usuário que realiza a edição e o País de origem. Tais indicadores contribuem em 3,68 pontos para a diferença de escore entre Brasil e Islândia.

Adicionalmente, a Islândia apresenta resultado significativo nos indicadores de “Intellectual property receipts”, “Government effectiveness” e “National feaure films produced”. Somados, os esse três indicadores garantem um total de 2,74 pontos.

Finalmente, é importante explicitar que a Islândia apresenta 7 indicadores cujos valores não são considerados no índice, dos quais dois tem peso relativamente elevado, diga-se: “Utility model applications by origin” e “Foreign direct investment, net outflows”.

Figura 9 - Comparação de Scores Ponderados entre Brasil e Islândia

3.3 Comparação com o País médio - Avaliação de Forças e Fraquezas

No intuito de identificar as forças e fraquezas do Brasil, decidiu-se por comparação contra um país médio, construído pelo cálculo da média dos países com classificação acima de 66 - i.e. mais bem classificado que o Brasil. A figura 10 sintetiza as diferenças encontradas, de forma que as barras com valor acima de 0 representam os indicadores para os quais o score do Brasil está acima da média dos países melhores colocados.

A vantagem da análise contra o país médio é evitar que características particulares de alguns países, quando se faz análises País a País, possam ser supervalorizadas no momento da análise das forças e fraquezas do Brasil. Dessa forma, a comparação contra o país médio apresenta um diagnóstico robusto das forças e fraquezas.

Dado que para o cálculo da média considerou-se apenas países mais bem colocados é esperado que, em sua grande maioria, os resultados apontem para resultados desfavoráveis ao Brasil. No entanto, foi possível identificar três indicadores para os quais o Brasil apresenta resultados superiores a média, diga-se: “Domestic market scale”, “Citable documents H index”, “Global R&D companies, average expenditure top 3”.

No que se refere aos indicadores com resultados desfavoráveis ao Brasil, listou-se os principais: “Government effectiveness”, “Foreign direct investment, net outflow”, “Generic top-level domains (gTLDs)”, “Industrial design by origin”, “Wikipedia yearly edits”, “Creative goods”, “ICTs and organizational model creation”.

O indicador “Government effectiveness” refere-se ao índice de percepção gerado pelo World Governance Indicators do Banco Mundial, e reflete a percepção sobre a qualidade dos serviços públicos, a qualidade dos serviços prestados pela população civil e gráu de independência desse serviço em relação a pressões políticas, reflete ainda a qualidade da implementação e formulação de políticas, e a credibilidade governamental quanto a dedicação em executar tais políticas. É importante ressaltar que tal indicador é fruto de uma composição de outros indicadores.

O segundo pior resultado é relativo ao “Foreign direct investment, net outflow”, no qual estamos abaixo do média em cerca de 0,55 pontos. Esse indicador refere-se a fluxos líquidos de saída de investimentos externos diretos, calculado como a média dos últimos três anos e dividido pelo PIB. Os dados são originários do Fundo Monetário Internacional, especificamente das bases de dados Internacional Financial Statistics e Balance of Payments, disponibilizados pelo Banco Mundial na base de dados World Development Indicator.

Os outros cinco indicadores listados apresentam resultados bastante próximos e em favor do País médio. É interessante destacar aqui que todos eles pertencem ao pilar Produtos criativos, o que destaca o baixo desempenho do Brasil em tal pilar.

Figura 10 - Comparação de Scores Ponderados entre Brasil e País Médio

3.2 Seleção de Países para execução de Benchmark

Nesta seção buscou-se encontrar os países que mais se assemelham com o Brasil (em termos de indicadores de inovação) e que estejam melhor posicionados no Rank do GII.

É importante ressaltar que Suíça e Islândia, apesar de países muito bem colocados no rank de 2019, não são necessariamente os países ideais para comparação direta com o Brasil. A fim de identificar tais países, avaliou-se a correlação dos indicadores do Brasil com países melhor colocados. Países com alto nível de correlação com o Brasil tendem a ser mais similares e proporcionais em termos de indicadores, de forma que a seleção deles tende a evitar que se faça comparações com países com estrutura de resultados drasticamente diferente da brasileira e não necessariamente comparáveis.

Em outras palavras, as economias com alta correlação tendem a compartilhar as mesmas fortalezas e fraquezas, ainda que em níveis de score e rank acima do nosso. Dessa forma, é plausível que se possa aprender com as ações de países que tenham dificuldades semelhantes mas que estão mais bem colocados, em oposição a países com estruturas e prioridades diferentes das nossas.

Utilizando os scores ponderados dos indicadores, identificou-se os seguintes países mais correlacionados ao Brasil, diga-se: Russia - 0.94 , África do sul - 0.93, Polônia - 0.93, Chile - 0.93, kwait - 0.91 (8 NA); Uruguai - 0.89 (8 NA); Spain 0.89. Vale destacar que a correlação pode ser afetada, em alguma medida, pela presença de um número elevado de NA’s, de forma que selecionou-se apenas países com - no máximo - 4 NA’s. Assim, Russia, África do Sul, Polônia, Chile compõem o grupo de países escolhidos para o Benchmark. A tabela 2 apresenta dados dos países selecionados.

Tabela 2 - Dados de Países Selecionados

3.2.1 Rússia

No GII 2019, a Rússia somou um score de 37.6 e obteve a colocação nº 46. Dessa forma, apesar de estar a 20 posições a frente do Brasil, a Russia apenas conta com 3.8 pontos a mais.

A figura abaixo apresenta os resultados da comparação para os 80 indicadores considerados pelo GII. Como esperado, o Brasil apresenta um grupo maior de indicadores com resultados positivos quando se compara com a Russia, em oposição as análises apresentadas anteriormente. Além disso, destaca-se que existe um elevado número de indicadores com resultados bastante semelhantes, e que a amplitude das diferenças encontra-se num patamar muito menor, variando entre 0,33 e -0,61. Todos esses pontos justificam a proximidade entre a pontuação dos dois países e o elevado nível de correlação.

É importante ressaltar que a Rússia apresenta duas grandes forças em relação ao Brasil, diga-se “Graduates in science and engineering” e “Utility model application”. No entanto, dada a similaridade dos dois países em termos de indicadores, é provável que uma estratégia de crescimento no GII (e de aproximação da Rússia) tenha melhores resultados de curto prazo quando foca nos indicadores para os quais a Rússia apresenta resultados intermediários, em oposição a uma estratégia que vise combater as maiores fortalezas do país comparado (ou as maiores fraquezas do Brasil).

Dessa forma, destaca-se aqui alguns indicadores para os quais a Rússia apresenta resultados bons, mas que não são suas maiores forças, os quais tem potencial de oferecer boas práticas e políticas que podem ser estudadas. Os indicadores mencionados são: Aplicação de Marcas e Patentes, Pesquisas de Opinião do Fórum Econômico Mundial, Fluxo de saída de Investimento direto, Facilidade de iniciar um negócio, Total de novos negócios, Facilidade de resolver insolvência, Pesquisadores no mercado privado, Tarifas de importação, (%) de mulheres empregadas com alta titulação, Prova do PISA (Leitura, Matemática e Ciências).

Figura 11 - Comparação de Scores Ponderados entre Brasil e Rússia

3.2.2 África do Sul

A Africa do sul foi identificada como a segunda nação com maior correlação com o Brasil. No GII 2019, a Africa do sul somou um score de 34 e obteve a colocação nº 63. Dessa forma, está apenas 3 posições a frente do Brasil, somando 0.2 pontos a mais.

Apesar de estar a poucas posições a frente do Brasil, identificou-se uma amplitude maior entre os pontos do Brasil e Africa do sul do que na comparação com a Rússia. Essa maior amplitude, no entanto, decorre do expressivo resultado obtido pela Africa do Sul no indicador “Market capitalization”. Outras duas forças Sulafricanas são “Domestic credit to private sector” e “New business density”. Somados, os três indicadores representam 1,7 pontos a menos para o Brasil.

Além dessas três forças, existem três indicadores com valores intermediários (maior que 0,2) a favor da Africa do sul diga-se: “Government effectiveness”, “Foreign direct investment, net outflows” e “ICTs and organizational model creation”.

É importante destacar cinco indicadoes que surgem como forças do Brasil nessa comparação, diga-se: “Trademark application”, “High-tech exports”, “Domestic market scale”, “GDP per unit of energy use” e “Environmental performance”.

Figura 12 - Comparação de Scores Ponderados entre Brasil e África do Sul

3.2.3 Polônia

A terceira nação com maior correlação com o Brasil foi a Polônia. No GII 2019, a Polônia somou um score de 41.3 e obteve a colocação nº 39. Dessa forma, a Polônia está 27 posições a frente do Brasil e soma 7.5 pontos a mais.

A figura abaixo apresenta a comparação entre Brasil e Polônia. O principal destaque a ser feito é que, contra a Polônia, o Brasil não apresenta nenhum indicador acima de 0,2 de vantagem, algo que aconteceu nas comparações contra todos os outros países analisados até aqui, incluindo a Suíça.

Quatro indicadores merecem destaque em favor da Polônia, os quais somados totalizam 2,4 pontos de diferença, diga-se: “Creative goods exports”, “Growth rate of GDP per person engaged”, “Government effectiveness” e “Ease of resolving insolvency”, além desses destaques, a Polônia apresenta outros 14 indicadores com diferença superior a 0,2.

Figura 13 - Comparação de Scores Ponderados entre Brasil e Polônia

3.2.4 Chile

O Chile foi identificado como a quarta nação com maior correlação com o Brasil. No GII 2019, o Chile somou um score de 36.6 e obteve a colocação nº 51. Dessa forma, 15 posições a frente do Brasil, somando 2.8 pontos a mais.

Os indicadores chilenos de maior destaque são “Foreign direct investment, net outflows”, “Government effectiveness” e “New business density”, somando 2,1 pontos para a diferença entre os dois países. Além desses, existem outros 9 indicadores com diferença a favor do Chile acima de 0,2 pontos, diga-se Aplicação de Marcas e Patentes, Pesquisas de Opinião do Forum Econômico Mundial, Investimento estrangeiro direto, Eficácia do Governo, Participação (%) de novos negócios, Formação bruta de capital, Crédito doméstico para mercado privado, Ingresso em universidades, Tarifas de importação.

A favor do Brasil, identificou-se 8 indicadores com resultados acima de 0,2 pontos, diga-se: “Global R&D companies, average expenditure (top 3)”, “High-tech and medium high-tech output”, “Cost of edundancy dismissal”, “Domestic market scale”, “High-tech exports”, “Growth rate of GDP per person engaged” e “Utility model application by origin”.

Figura 14 - Comparação de Scores Ponderados entre Brasil e Chile

Montar Rank dos indicadores com maior diferença país a país. Calcular a correlação de Spearman para comparar ranks. Caso haja bastante semelhança, identificar os que tem grande diferença sistematicamente.

3.3 Avaliação do Crescimento potencial máximo.

Os dados do Score ponderado nos informam sobre a participação do indicador no Score global do GII do Brasil, porém não permite avaliar qual a contribuição adicional máxima que o indicador ponderado oferece ao Brasil. Para tanto, calculou-se a diferença entre a pontuação ponderada do Brasil e a pontuação máxima obtida por um País, apresentada na figura abaixo. De outra forma, o gráfico permite a identificação dos indicadores nos quais a pontuação do Brasil já é próxima da máxima, ainda que a colocação no ranking não seja boa. Por exemplo, vale destacar a pequena diferença para os indicadores Government’s online service e Online e-participation, com bom posicionamento no rank de 12 e 22, respectivamente. Em contraposição, o indicador Ease of starting a business, indicador com pior colocação (106º), também mostra uma baixa diferença.

É de grande importância ressaltar que nesta análise não foi feita considerações acerca do custo e/ou risco associado a ações relacionadas aos indicadores, restringindo-se a uma elucidação da diferença entre a pontuação do Brasil e a do país com melhor resultado. No entanto, os dados apresentados aqui permitem identificar possívels estratégias para se obter um desejado número de pontos e uma colocação específica no ranking.

Assim, dado que o Brasil atingiu a marca de 33.8 pontos no GII 2019, obtendo a 66º colocação no Rank que considera um total de 129 nações, com apenas um ponto adicional seria possível passar a Sérvia, ganhando 9 posições no ranking. Além disso, com 6,2 pontos adicionais, teríamos atingindo a marca de 40 pontos e superaríamos outras 25 nações no rank, chegando a colocação nº 41.

Figura 15 - Gap de Score Ponderado entre o Brasil e o Primeiro Colocado em cada Indicador

A tabela detalha, por ordem de potencial máximo, os indicadores apresentados no gráfico acima. É importante ressaltar que o score de cada país, e assim a pontuação máxima que se pode obter, pode sofrer alterações de um ano para outro devido a normalização que é realizada sobre os dados. Dessa forma, o potencial apresentado acima, assim como os valores apresentados no anexo, podem ser vistos apenas como estimativas dos valores potenciais.

Tabela 3 - Contribuição Adicional Máxima de cada Indicador no Score Final do Brasil.

No Anexo 2 deste trabalho apresenta-se a relação entre os scores e ranks dos 80 indicadores e 129 países considerados no GII 2019. Esses gráficos permitem compreender que, em geral, as distâncias entre os países (em termos de score) não é constante. Dessa forma, para um dado indicador, pode-se analisar se existe algum país com um destacado resultado (separado por muitos pontos dos demais), ou ainda se existe alguma lineariedade na relação entre score e rank.

Adicionalmente, com base nas relações verificadas em tais gráficos: 1- propôs-se meta individual para cada indicador com base na distribuição dos scores.; 2- definiu-se valor que seria necessário atingir para cumprir a meta proposta. Finalmente, considerando o potencial de pontos, a facilidade de se alterar os resultados por meio de políticas e o objetivo de atingir a 20º colocação no GII até 2030, propôs-se uma estratégia dividida em três fases: 1º fase - investimento em indicadores com alto rendimento; 2º fase - investimento em políticas estruturantes; 3º fase - salto inovativo.

Atribuiu-se à primeira fase aqueles indicadores que apresentam um potencial de retorno (em termos de score) elevado e menor dificuldade de implementação de políticas capazes de transformar os indicadores. Para segunda fase selecionou-se indicadores que formam base estruturante para o crescimento nos anos seguintes. Nesta fase incluem-se as políticas de caráter estruturante e que requerem elevado esforço. Finalmente, na última fase, pressupondo o sucesso nas fases anteriores, dedica-se a indicadores com alto rendimento e alto grau de complexidade e/ou elevado nível de requerimentos para seu sucesso.

É importante ressaltar que a cada fase pressupõem-se a manutenção de políticas e resultados obtidos nas etapas anteriores. Finalmente, descartou-se da estratégia indicadores nos quais há um baixo grau de autonomia e aqueles que indicaram um nível de score potencial abaixo de 0,2.

A execução desse plano prevê um crescimento de cerca de 6,5 pontos na fase 1, retirando o Brasil da posição 66 para um posicionamento por volta da colocação 40. Na segunda fase prevê-se uma adição de mais 6 pontos e passagem para a posição próxima da 30º. Finalmente, os 5 pontos adicionais da última fase permitiria a aproximação e possível superação da posição nº 20 no rank.

Finalmente, é importante ressaltar algumas premissas que foram utilizadas para a execução do exercício exposto no Anexo 2, diga-se:

  1. O GII reflete de algum modo a inovação dos Países;
  2. O GII tem indicadores redundantes, portanto há viés e esse reflexo é necessariamente impreciso;

Dada a 1º premissa e para mitigar a 2º premissa, há que se propor metas ambiciosas, de modo que as políticas futuras tenham impacto real para a inovação no Brasil.

4. Restrições da Análise

É importante ressaltar que as análises realizadas nesse documento apresentam uma série de restrições. A principal delas decorre da proposta do estudo, diga-se: analisar a metodologia e dados do GII. Dessa forma, os resultados encontrados são relativos apenas a indicadores que compõem o GII e devem ser considerados sobretudo para uma análise de políticas com foco em melhora no rank do GII.

Como todo índice de resultado, o GII apresenta suas restrições, de forma que uma melhora ou piora no rank não necessariamente está associada a uma melhora/piora do ambiente inovador do País. Essa relação tende a ser verdade para grandes variações no índice, enquanto as pequenas variações podem decorrer de mudanças na metodologia da formulação do índice, do cálculo interno do país, mudanças de percepção etc.

Além disso, é importante ressaltar que, não se incorporou aqui as relações de dependencia existente entre as variáveis que formam os indicadores, tomando-os como independentes. Apesar de o coeficiente de correlação servir de base inicial para tal análise, seria necessário proceder diversos estudos de impacto, que envolvem um elevado nível de complexidade e não estão contemplados no arcabouço do presente estudo.

5. Conclusão

O presente trabalho apresentou uma avaliação da estrutura de monitoramento de políticas de inovação adotada pelo Global Innovation Index. Nessa análise, verificou-se que há uma substancial valorização de indicadores relacionados aos produtos da inovação, em detrimento de indicadores relacionados aos insumos. Com base nessa análise, foi possível criar um rank de indicadores que devem ser priorizados pelas políticas, afim de produzir maiores resultados no rank do GII.

Adicionalmente, apresentou-se um benchmarking utilizando uma metodologia adaptada do GII, o qual permitiu uma identificação das forças e fraquezas do Brasil em relação a indicadores que tem maior peso no cálculo do índice. Adicionalmente, a metodologia adaptada foi utilizada para avaliar os resultados do Brasil quando comparado com as nações mais semelhantes. Concluiu-se que, apesar de pior colocado que tais países, há diversos indicadores que apresentamos resultados expressivos. Observou-se também diversos pontos fracos do Brasil em relação ao país comparado, como uma forma de identificar potenciais políticas de destaque e boas práticas por parte dos países estudados.

Finalmente, definiu-se um grupo prioritário de indicadores, que devem ser observados na elaboração das políticas, e que devem gerar resultados rápidos e de curto prazo no score e rank do Brasil no GII.

6. Anexo 1

Tabela A1

Tabela A2

Tabela A3

Tabela A4